Aluno de Arquitetura e Urbanismo fala sobre artigo publicado na Revista da UNIB

Temos uma pergunta aos paulistas: vocês conhecem a Vila Operária Maria Zélia? Em 1912, ela foi projetada por Paul Pedraurrieux a pedido de Jorge Street, médico que queria garantir moradia e bem-estar aos operários da Companhia Nacional de Tecidos de Juta – CNTJ. Visando a educação das crianças e dos jovens, foram construídas edificações destinadas ao ensino: o prédio da Creche e Jardim de Infância, o prédio da Escola de Meninos e o prédio da Escola de Meninas. Enquanto as meninas contavam com aulas de bordado e afazeres domésticos, os meninos eram preparados para a indústria, ou seja, tinham aulas que os tornassem bons operários e qualificados para o trabalho.

Pensando no restauro da edificação da Escola de Meninos, Maurício Alexandre Rizzi, aluno do curso de Arquitetura e Urbanismo de nossa instituição, fez um artigo intitulado “Complexidade e necessidade de intervenção no patrimônio histórico construído: um dossiê sobre a Escola de Meninos da Vila Maria Zélia”, considerando as pesquisas desenvolvidas pelo grupo de estudos “Novos Espaços Escolares: Inovação, Inclusão e Sustentabilidade” e que foi publicado na Revista da Universidade Ibirapuera.

Qual é a sua relação com a UNIB?

Em 1989, se não me engano, meu pai fez Contabilidade em outro campus da UNIB. Assim, esse foi o meu primeiro contato com a instituição. Na época do colégio também tive a oportunidade de prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) no prédio do começo da Av. Interlagos. Sem contar o fator “proximidade”, já que moro em Jabaquara.

Em 2014, eu estudava em outra instituição, mas não gostava muito de lá por conta do custo e das posições políticas explicitas dos docentes. Então, pedi transferência no quarto semestre. Gosto muito daqui, não tenho muito o que reclamar.

Qual é a sua trajetória profissional?

Tenho 34 anos. Em 2003, comecei minha vida acadêmica estudando Engenharia Civil. No início estava sem foco, sem muita vontade. Aí, reprovei o primeiro ano e, como também não estava gostando da instituição, fiz uma transferência. Ainda fiz dois anos do curso, insisti, mas não era o que realmente eu queria. Desse modo, desisti, fiquei em “hiatus” durante um ano, um ano e meio, e resolvi fazer um curso técnico em Segurança do Trabalho, me formando em 2009. Fiquei atuando por um tempo na área.

A minha intenção fazendo uma graduação em Arquitetura e Urbanismo era realizar uma pós em Engenharia de Segurança do Trabalho, não atuando muito como arquiteto. Mas a Prof.ª Márcia Barros Valdívia, que sempre gostei das aulas, propôs fazer a Iniciação Científica, o que me deixou dividido: faço a pós ou caminho para o Mestrado, dar aulas?

Fale um pouco sobre o início da produção do artigo. Como surgiu a ideia?

A ideia de trabalharmos a Vila Maria Zélia partiu da Prof.ª Márcia, mas como o bairro é muito grande, ela me deu essa liberdade de fazer um apanhado geral e destacar uma edificação. Eu acabei optando pela Escola de Meninos por conta de duas questões: 1) tem outros prédios, mas alguns estão em uso e 2) a edificação não está tão deteriorada quanto a Escola de Meninas, por lá dá para fazer até visitação acompanhada. Além de interditada pela Defesa Social, a Escola de Meninas também corre risco de desabamento.

Houve uma visita ao local? Foi fácil ter acesso ao prédio?

Teria uma visita com alguns monitores especialistas, mas acabou não acontecendo. Aí, acabei indo pessoalmente e sozinho. Caminhei, tirei fotos e conversei com alguns moradores.

Como foi realizada as análises da arquitetura?

Na verdade, me surpreendi com a quantidade de material publicado que encontrei sobre a Vila e as edificações. Tem muita coisa original, da época da construção. Na internet, fazendo uma boa garimpada, é possível fazer um levantamento dessas análises.

Como você aplicou os conhecimentos aprendidos nas aulas de Arquitetura e Urbanismo no artigo?

Com o que aprendi no curso deu para avaliar o tipo de material que foi usado na construção e o estilo arquitetônico da edificações. Aliás, usei como base grande parte do que foi ensinado em História da Arte.

Qual é o objetivo do artigo?

A ideia inicial era sugerir uma intervenção para fazer um restauro no local, mas já foi dito logo de cara que seria difícil porque não é economicamente interessante para as autoridades. Assim, o objetivo se tornou dar visibilidade para a história e as edificações do lugar.

Quais foram os principais desafios no desenvolvimento do artigo?

Um dos principais desafios foi o tempo. Tempo para ir lá, sentar e produzir o trabalho. A questão burocrática também foi um problema, pois o acesso não é fácil. É claro que tem a Sociedade Amigos da Vila Maria Zélia, mas tem questões que fogem da responsabilidade deles.

Na sua opinião, qual é a importância de ter um trabalho como esse no currículo?

Independente de fazer uso desse material no meio acadêmico ou profissional, é interessante conhecer e apresentar essa história. Você também acaba desenvolvendo a escrita e o modo de se expressar.

Segunda a Prof.ª Camila Forcellini, essa foi a primeira Iniciação Científica de um aluno do curso que gerou um artigo publicado em um periódico. Qual é a sensação?

Eu não sabia, fui pego de surpresa agora. Nem sei o que dizer, é muito legal saber que pude colaborar para a instituição dessa maneira.

Quais conselhos você daria para o aluno da UNIB que também gostaria de estar em uma Iniciação Científica? 

A pessoa deve pensar muito bem antes de se comprometer com a Iniciação Científica, principalmente porque muitas pessoas (docentes e alunos) contam com quem está participando. É necessário cumprir com a sua parte e, assumindo essa responsabilidade, dar o melhor de si.

Tem mais alguma coisa que você queria destacar sobre o artigo, o grupo de pesquisa ou uma curiosidade?

É muito legal conhecer mais a fundo sua cidade. Foi isso o que eu fiz na Vila Maria Zélia e gostei bastante.

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